Tique-taque

6.9.16


Avisos não são necessários. Sinais podem ser involuntários. Perdidos em seu próprio tempo, não notam o do próximo.

Tique-taque tempo passa. A vontade passa. Os sentimentos passam. Tique-taque nada permanece. Nada muda. Tudo muda. Tudo permanece. É como um balão de ar, o ar tem que ser quente. O ar preenche o vazio. O ar sustenta. Mas o que é o ar se não um nada? O vazio está cheio de nada, o ar lota o vazio. O que diferencia o ar não é sua temperatura? Tá quente funciona, tá frio nem mesmo faz cócegas. Se tá frio não funciona. Nada funciona na frieza. Só o sorvete. Mas pessoas não são sorvetes. Quem dera que fossem, seriam doces, completas e geladas. Porém, somos o contrário do que são os sorvetes, talvez seja por isso que somos tão atraídos por eles. Queríamos ser eles. Sair dessa casca vazia e se completar. Não precisar do ar quente, mas sim alcançarmos o ápice com a geladez de outros. Os sorvetes não sabem a sorte que tem por serem quem são.

Tique-taque o bolo está pronto. Quentinho. Fofinho. Igual a receita dizia que seria. Mas é fácil seguir receitas. 200 ml de leite, 3 ovos, 2 xícaras de trigo. Unte a forma. Asse. Como errar? Não se erra com receitas. Pena que a vida não tem receitas. Às vezes colocamos leite demais, às vezes trigo de menos. Pode acontecer de ficar muito tempo no forno. A vida pode embatumar. E se ela embatumar, rapaz... Não é como se queimasse e com uma faca retirasse a parte ruim. Não é como se ficasse cru por dentro e voltasse para o forno com o intuito de terminar de assar. Quando a vida embatuma, nada se pode fazer. Ela embatumou.

Taque-tique as coisas não estão certas. Taque-tique quem mudou o sofá de lugar. Toque-taque fora. Não era pra tirar. Não era pra sair. Fique, tem bolo fofinho. Fique, tem sorvete mais tarde. O sofá não sei onde está. Eu sei. Também não sei. Não sei. Era para estar ali. Quem mudou o sofá de lugar. Não era pra ter feito isso. Eu gostava do sofá. Tenho certeza de que ele gostava de mim também. Nunca falou nada, mas eu também não havia falado. Que diferença há. Quero o sofá. Ele era bom. Eu o limpava uma vez por mês, era cheiroso. Alguém me escuta?

Tique-taque acho que não. Tique-taque nem eu me escuto. O que falei? Como comecei? Nem me lembro. Não tem importância. Nunca teve. Tique-taque esse barulho ensurdece. Tique-taque esse barulho enlouquece. Tique-taque não tem como parar. Tique-taque não tem como ignorar. Tique-taque tique-taque tique-taque. Tique-taque parece uma bomba. Tique-taque e eu acho que é.

Tique-taque os meses passam. Tique-taque esse mês te lembra. Tique-taque pra que afinal. Tique-taque o tempo acabou.

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