Resenha: Mathilda Savitch

10.8.15

Título: Mathilda Savitch
Autor: Victor Lodato
Ano: 2009
Páginas: 310

"O futuro é o maior segredo de todos e, falando sério, qual é a pressa? Talvez, não seja tão ruim alguém pôr a mão no braço da gente e dizer pare, quer parar, por favor?

Existem apenas duas maneiras de classificar o livro Mathilda Savitch: ou é uma história que começa do nada e acaba em quase lugar nenhum, ou ela já é jogada inteiramente na sua cara desde a primeira página. Minhas emoções foram mistas durante a leitura, não por causa de grandes acontecimentos ou algo do tipo, mas sim por causa da protagonista. Mathilda está entrando na adolescência, o período normalmente já é perturbador, agora, imagine o fato da sua irmã mais velha ter sido brutalmente assassinada há um ano. E ela não tem a quem se apoiar, seus pais estão tão inertes devido a dor, que a garota precisa recorrer à crueldade para ter alguma reação deles.

De início gostei de Mathilda, ela era uma protagonista diferente de todos os outros livros que eu já havia lido, mas depois foi como em uma montanha-russa, eu senti pena, odiei, senti pena de novo, a achei louca, odiei, a achei louca novamente e, por fim, a entendi. O livro não tem um ápice, foi como se Victor Lodato tivesse conhecido a garota e decidido contar como foi a época do primeiro ano sem Helene na família Savitch, tudo na visão de Mathilda, já que o livro é inteiramente narrado em primeira pessoa. Estar dentro da cabeça de uma garota que passou tudo aquilo que descrevi no primeiro parágrafo é um pouco cansativo, demorei para ler esse livro, você tem que parar e absorver o que Mathilda está sentindo e entender o motivo dela falar e pensar todas aquelas coisas. Em nenhum momento ela faz a linha "perdi minha irmã, sinta dó de mim", não, a forma que ela lida com isso é bem diferente, Mathilda é uma pessoa cruel, grossa, tem pensamentos nada legais, mente para os outros sem um motivo e tem horas que é sádica. Além de ter uma imaginação tremenda.

Por causa dessas suas atitudes, durante o livro ela quase perde (ou perdeu mesmo?) a amizade de Anna, a garota que, mesmo nós, leitores, já percebemos que a protagonista nutre uma paixão, somente é admitido por ela perto do final da história. Mesmo tendo afirmado que fantasia com seu outro amigo, Kevin. Em vários momentos fiquei desconfortável com as atitudes da personagem, foi então que percebi que o livro não era do tipo que se molda para gente, na realidade, nós que devemos nos moldar para ele. Tudo isso ocorre enquanto Mathilda tenta descobrir a vida secreta que sua irmã levava, entra nos e-mails e lê todos o que Helene trocava com seus namorados. Conhece Louis, o rapaz que Helene tinha uma maior ligação, é nesse ponto que descobrimos, juntamente com Mathilda, como a morte dela estava em um quadro pior do que o que já aparentava. E é nessa situação que a personagem surpreende mais uma vez, acostumando-nos com sua frieza e impulsividade, Mathilda se mostra compassiva e cautelosa, é um dos pontos mais tristes do livro, mas também é um dos melhores em mostrar o quanto a menina não era exatamente da maneira que se mostrava ser até então.

Você sente raiva dos pais de Mathilda, você sente raiva de Mathilda, mas no final, você sente raiva de si mesmo por ter sentido raiva dessa família quando para e percebe que cada um tem sua maneira de lidar com o luto, que a morte de alguém pode realmente quebrar uma família, que é necessário todos mostrarem sua dor em momentos assim para que um ajude o outro a se curar. Não é fácil tratar o tema morte, ainda mais com uma pegada tão realista como Victor Lodato fez. O Árvore tem muito o que fazer com os Savitch, não somente com Mathilda. Durante a leitura você se sente bem confuso, como já falei mais pra cima, mas é o final que mostra a chave mais importante, é o que sela sua opinião a respeito do livro. Ele te faz compreender o que levou a morte de Helene.

E talvez até mesmo dê o vislumbre de como aquela família vai se portar dali em diante se estiverem dispostos a mudarem. Senti meus olhos marejados quando terminei de ler o livro, não por causa do final em si, mas sim quando parei para pensar no quanto uma decisão drástica por afetar não somente você, como a todos, quando também percebi que Mathilda poderia até mesmo ser um pouco petulante antes da tragédia, mas que a pessoa que nos é apresentada no livro é na realidade o formato defesa de uma adolescente que quer nada mais do que a atenção de seus pais. Que quer reorganizar sua vida.

Mathilda Savitch  é um livro sobre uma menina transtornada que não sabe muito bem como lidar com as coisas, revira o passado de sua irmã tentando encontrar uma saída para seu presente. Não tem como gostar ou desgostar da menina. Esse livro foi um dos mais diferentes que já li, para muitos pode não ser brilhante ou genial, mas tenho certeza que, pelo menos em um pequeno espaço, Mathilda deixará sua marca.

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