Empírico

7.8.15


É como se você estivesse sentada em uma cadeira almofadada, porém, muito antiga, a ponto da madeira doer em algumas partes de seu corpo. Não somente isso, mas como também estar cercado por uma multidão falante. Todos estão se comunicando, sorrindo, entendendo um ao outro, mas para você, tudo está acontecendo muito rápido, não consegue acompanhar. Não entende a conversa. Não sabe o que está acontecendo em sua volta. Uma leve tontura te aflige e você sente algo te puxando para dentro de si, cada vez mais forte, e puxa, puxa, puxa, até que, quando percebe, você está dentro de você.

Está escuro, muito escuro. Uma luz acende em cima e somente um círculo em sua volta que é iluminado. Você olha para a escuridão e não vê coisa alguma, mas sabe que a escuridão te olha de volta e alguém o observa. O medo aparece, ali não é seguro, mas para onde mais iria? Não há lugar para ir. A fuga do medo é impossível. O chão se abre, de repente, e agora você está em queda livre, não sabe por quanto tempo, mas sabe que a sensação é de como se fosse infinito. Então, está no cume de uma montanha. Olha em volta e vê absolutamente tudo, a paisagem é branca por completo. Olha para baixo, não consegue enxergar chão e não faz ideia de como descer, então decide sentar, se equilibrando no pico da montanha. O vento assovia em seu ouvido. Você fecha os olhos e sente, por poucos minutos, uma paz, uma tranquilidade indescritível.

Mas então, você está novamente em pé e olhando para baixo, ainda não consegue ver a base da montanha, é tudo muito escuro, como se fosse um abismo colossal. Sente uma mão te empurrando e, novamente, está em queda livre. Não tem ideia para onde aquilo vai, mas sabe que não é nada bom, a vontade de chorar é incontrolável, se enrola em posição fetal e torce, com toda força que existe em cada centímetro do seu ser, para que aquilo acabe logo, mas não acaba, a queda continua. Quando pensa que não tem mais saída, que a queda duraria para sempre, sente seu corpo batendo com força no chão, escuta o barulho de suas costelas se quebrando, tudo está mole dentro de você. Na tentativa de fugir de qualquer outra surpresa desagradável, se vira e começa a se rastejar pelo chão, mas está tudo escuro, uma luz, quase como a de anteriormente mas que a única diferença é que essa é um tanto mais fraca, fica em cima de você. Um barulho vem da escuridão, você não tem ideia de que lado ele está sendo emitido, o medo apavora a ponto de te enlouquecer.

Continua rastejando, mas os movimentos estão muito lentos. Sente que aquilo está se aproximando. Um formigamento começa nas pontas de seus pés e vai subindo pelas pernas. Aos poucos você está virando pó, não está ventando, mas ele está sendo levado para longe. Consegue se ver desintegrar e não acredita que isso realmente está acontecendo. Conforme vai se aproximando de seu intestino, estômago, coração e pulmão, começa a aceitar esse fim. "Pelo menos isso vai acabar", é a única coisa que consegue pensar. Não consegue sentir felicidade, mas um calor no coração faz com que sinta gratidão e alívio. Está passando. Está acabando. Mais um pouco e você não está mais ali. Virou pó e foi embora. Você não está mais ali, mas como também não estão mais seus medos, incertezas e inseguranças. Tudo acabou. E você agradece por isso.

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