Fan(ático)s

30.9.15


Nos dias 26 e 27 de setembro fui ao Rock in Rio, e eu amei inteiramente ele. De início pensei em fazer um post falando sobre os shows do evento, como era a organização e o que achei dele, mas então mudei de ideia. E mudei logo quando pisei na Cidade do Rock. Sempre que faço um post pessoal costumo transmitir o quanto sou fascinada pelo comportamento humano, é um assunto que muito me interessa, e o Rock in Rio foi uma ótima oportunidade para pensar um pouco mais sobre isso.

O portão do evento abria às 14h, mas o jornal local noticiava que pessoas estavam ali esperando por isso há horas antes. Quanto mais cedo chegassem, mas perto do portão ficavam. Assim que liberavam a entrada, era possível ver a multidão correndo sem parar até o Palco Mundo, o portão que entrei nos dois dias era diferente e demorava mais uns cinco ou dez minutos para ser aberto, então foi possível ver com clareza o desespero das pessoas para ficarem o mais perto da grade possível. O show principal começava somente a meia-noite, então todos que conseguiram ficar na grade e perto dela estavam ali desde as 14h, ou seja, foram dez horas sem sair do lugar.

Sem sair mesmo, pois conforme o tempo passava, mais pessoas chegavam e iam sentado no chão, fazendo com que a região se transformasse em um labirinto, em que atravessá-lo demoraria pelo menos vinte minutos, quem iria correr o risco de perder seu lugar na grade? Ninguém. Então os fãs suportaram o sol que castigou no domingo, ao menos no sábado o tempo ficou nublado o dia inteiro. Não passaram fome, eles levaram seu alimento, e nem mesmo sede, visto que os vendedores de água faziam suas mágicas para conseguirem andar entre o labirinto humano e no domingo a organização do evento liberou copos de água para os resistentes da grade. Porém, as piores fofocas aconteceram quando o assunto "necessidades" surgia, o que passava de boca em boca por todos ali era que alguns da grade urinaram no chão e até mesmo neles próprios, os mais leves diziam que algumas outras pessoas estavam usando fraldas justamente para não se preocuparem com isso.

E foi então que o sentido de "fanático" começou a se mostrar realmente grande para mim. Quer dizer, já li na internet dezenas de casos de pessoas que tatuaram ou fizeram loucuras em nome do amor que sentiam por algum famoso, mas isso nunca me deixou impressionada, talvez pasma, mas o sentido disso nunca havia me afetado - por nunca ter visto de perto. Não sou uma pessoa que se apega por completo em alguém, confesso que tenho dificuldade enorme em ver uma pessoa como exemplo e fazer dela um símbolo, sou bem pé no chão e isso dificulta muito alguns aspectos da minha vida, gosto bastante de alguns famosos, mas não a ponto do que vi ali. Não sei se é loucura ou carência (ou os dois), só sei que ser fanático por alguém é um pouco assustador. Os choros e ansiedades que presenciei foram surpreendentes. O dia que mais observei essas coisas foi no show da Katy Perry. A demora em começar fazia com que as pessoas ficassem impacientes e desrespeitosas.

Isso foi o que mais me deixou triste. Enquanto o primeiro show do palco mundo não começava, no telão passava o que acontecia no Sunset, o que escutei de reclamação e desprezo, pelos artistas do outro palco, feito pelas pessoas em minha volta ainda está para ser descrito. A primeira banda entrava somente às 19h, mas a multidão já começava a pressionar e ficar sem noção do que é o próximo desde às 17h. Por duas horas tudo era inquietação e falatório. E quando o show principal começou? Quanto mais próximo da grade, mais havia empurra-empurra, indiretas e pessoas que se colocavam em primeiro lugar e ignoravam o próximo. Sabe o que é mais esquisito? Na internet os fandoms se consideram família, discursam coisas sobre "somos unidos" e tudo mais, mas na hora em que é para ver o artista de perto, o tal artista que os uniu, não existe mais nada. Se der para passar por cima, eles vão passar por cima.

E se alguém desistia de ficar ali? Era impossível não ter dó da pessoa. Tirando o fato de ela ter guardado lugar por tantas horas e desistir tão perto do show principal, durante todo o caminho de volta ela escutava pessoas depreciando e fazendo chacotas dessa decisão tomada. Levo muito a sério o espaço pessoal de cada um, se alguém decidiu ir embora de algum canto, por que outras pessoas se acham no direito de se intrometer e diminui-la? Por algum motivo ela decidiu isso, não foi simplesmente à toa. As pessoas mudam completamente quem são (não vou afirmar que mostram seu eu verdadeiro, já que não as conheço) em situações semelhantes, tenho certeza que esses tipos de fãs são assim também quando acampam em frente de hotel e fazem fila para meet and greet. Notem que disse esses tipos de fãs, ou seja, sei que não são todos assim, vi pessoas que gostavam das artistas tanto quanto os outros, mas que não se comportaram dessa maneira que relatei.

Muito fiquei me perguntando o motivo que cada um que estava ali tinha para que sentisse tamanho amor pelas cantoras e passassem a se comportar da maneira que eu havia presenciado. Talvez uma música ajudou em um momento difícil, como problemas na família, problemas consigo mesmo, na amizade ou em um relacionamento. Isso é admirável, encontrar alguma ajuda positiva em letras de música é uma coisa bacana. Ter disposição para ficar embaixo de um sol super quente por horas, segurando suas necessidades (ou não) e fazer de tudo para que a pessoa note sua presença, precisa de muita dedicação. Citando um pouco de psicologia, foi nesses dias que vi o superego ser vencido pelo id. Foi também passando por essa experiência que notei quanta divergência existe entre as opiniões de quem se sacrifica para assistir de perto um show com as de quem o assiste pela televisão e sem muito esforço, mas isso é um assunto para algum outro post.

Não sei se algum dia vou entender por completo o que se passa na cabeça dos fan(ático)s, então me resta apenas continuar tentando.

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2 comentários

  1. Que máximo ir no Rock In Rio!!
    Eu morava no RJ e nunca fui, mas hoje em dia sinceramente acho que não iria só pela minha idade avançada (kkkkkkkkkkkk mentira nem tenho 30 ainda, mas me sinto com 80 em caso de deslocamentos para eventos desse naipe).
    Mas acho tudo muito lindo visto do lado de cá da telinha.
    A falta de respeito das pessoas realmente é algo que incomoda, mas não deixa te abalar, desde que mundo é mundo falta de educação vai existir.
    Beijos.

    www.clubedolivro15.blogspot.com

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    Respostas
    1. Tem que ter muita disposição haha
      É bem bonito mesmo, os fogos foram incríveis!
      Pior que é verdade, isso é triste.
      Obrigada por aparecer, bjs!

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