#PHpoemaday - #6 - Azul

6.6.14


Mariana encarava seu dever de casa. Já era noite e ela não estava nem um pouco interessada em ir na aula no dia seguinte. A matéria era literatura. Estudavam poemas. A professora Jaqueline, mulher a qual Mariana admirava grandemente, havia lhe dado um de Cecília de Meireles para ser apresentado semana que vem. A garota analisava o poema que estava em sua frente.

O título era O Menino Azul, dizia assim o começo:

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

Mariana também queria um burrinho assim. Bom, não precisava ser um burrinho, se sua mãe lhe desse uma gatinha já estava bom. A gatinha iria se chamar Kitty, ela não poderia arranhar o sofá novo de sua mãe (já pensou o quanto ela ficaria brava?), poderia passar entre suas pernas quando quisesse comida e teria que ficar no colo de Mariana quando a garota se sentisse solitária – o que era sempre.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

A menina nunca havia visto um rio (apenas o córrego fedorento que cortava sua cidade ao meio) ou subido em uma montanha, mas ela também queria que sua gatinha soubesse o nome de tudo isso. Pensa como seria legal ter uma gatinha que sabe de tudo! Mariana iria se sentir tão especial com uma dessas.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

A gatinha de Mariana iria ser sua protetora. A menina nunca mais iria se sentir sozinha. Mariana iria se sentir mais feliz e confiante. Sabe o quanto é ruim não ter ninguém ao seu lado? Mariana sabe muito bem. Seria bom ter um bichinho que a acompanhasse para onde ela decidisse ir, desde a rua debaixo comprar um punhado de balas ou na casa de sua vó – que fica do outro lado da cidade.

Com os olhinhos já pesados, a menina Mariana quase não conseguia terminar de ler o poema, e não notou mais quando sua leitura se misturou ao seu desejo. Tanto que ela dormiu pensando que era a Menina Azul.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

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