E pela janela ela olhava e via um pouquinho do mundo ali na sua rua.

De manhã, logo cedinho, enquanto ela ainda toma leite, passa um senhorzinho, bem devagarzinho, indo não sei para onde, voltando não sei quando. Mas usava um chapéu, o mesmo todos os dias, meio colocado de lado, como se fosse um sinal de que ali havia alegria. Um pouco mais tarde passa uma mãe segurando a mão de seu filho, pelo uniforme dava para notar que ia para a escola, ele tentava se soltar da mãe, todos os dias, e a mesma frase ela sempre ouvia “Volte aqui menino, não se solte da mão de mainha”.

Na hora do almoço é certo de que um grupo de jovens por ali irá passar, pois suas vozes de longe dá para escutar. É com brincadeiras e pegadinhas que aquele grupo de jovens, sorrindo, se unia. Pela janela aquela menina conseguia ver um pouco do mundo. Até as coisas que não deveriam existir, mas que por algum motivo, elas sempre apareciam.

Logo no fim da tarde, aquela menina sempre via um homem passar e uma criança sentada na carroça puxada por ele. O homem trazia consigo papelão e latinha, essa cena sempre a comovia. A menina dá tchau para a criança, com um sorriso no rosto, mas em seu coração uma dúvida sempre tinha “Ah meu Deus, como pode uma criança ter um bom futuro se ela cresce em meio a pobreza e meia dúzia de latinhas?”