Já repararam que quando é perguntado para uma criança qual animal ela mais gosta, geralmente é um felino suntuoso como um leão ou um tigre? Ou então pequeno e delicado como uma joaninha ou um filhote?

Eu não me lembro de algum dia ter uma opinião definitiva nesse assunto. Na verdade, é difícil eu decidir qual é minha cor preferida, minha comida preferida e tudo mais relacionado a pequenos gostos pessoais, gosto de me enxergar como um alguém em constante mudança, como dizia Raul Seixas, "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante", inclusive nessas pequenas coisas. Nunca procuro me prender a algo. Mas de uma coisa eu sempre tive certeza: a lagarta é um dos seres mais menosprezados. Talvez isso até mesmo seja bom. Ela é aquele animalzinho pequeno que muita gente tem nojo e que acha feio. Mas, já pararam para analisar o quanto a vida dela pode ser possível de comparar com a nossa? Não? Então irei listar aqui as três fases da vida, quem sabe assim, posso fazer com que pelo menos uma pessoa possa mudar de opinião quanto a ela.

A primeira notável é quando ela é a lagarta, aquele ser que é o terror agrícola e da jardinagem. Devora tudo que vê pela sua frente e... e nada mais! É taxada de feia, então ninguém procura por ela, basicamente sua vida é comer e descansar. Não que esteja livre de problemas, pois, racionais ou não, todos os animais se protegem contra perigos que envolvem seu bem-estar físico. Mas em sua determinada calmaria, ela vai levando a vida dela. E é assim que todos nós desejamos nos sentir, livres de julgamentos, como se nossa vida fosse independente de qualquer outra, queremos estar no nosso canto, "devorando nosso jardim". Ninguém pressiona para que ela passe pela transformação, todos sabem que cada um tem o seu tempo.

Já a segunda, é a pior, pelo menos se compararmos conosco. É quando ela começa a construir seu casulo. Aos poucos a lagarta se prepara para passar pela maior transformação de sua vida, ela não sabe o que vai acontecer, mas sabe que é aquilo que ela deve fazer, então ela faz e aguarda. Aguarda por dias. Queria ser uma lagarta. Ninguém a pressiona. Todos sabem que esse é o ciclo da vida dela, então aguardam pacientemente até o dia em que ela sairá como uma linda borboleta de dentro do casulo. Mas é isso que acontece com a gente? Não, claro que não. Todos temos um tempo em que passamos por transformação, mas ninguém aguarda pacientemente, imaginando que, após isso, nos tornaremos um melhor ser humano, ao contrário, todos pressionam, te julgam e querem resultados e ações antes do tempo natural. Assim como a lagarta, cada um tem seu próprio tempo. Vocês sabem o que acontece com a lagarta, que na verdade agora é uma pupa, quando alteram qualquer detalhe em torno de seu casulo? Ela morre. Não digo que isso possa ser passado para o literal humano, mas sei que quando alteram as condições de desenvolvimento de uma pessoa, ela pode morrer no sentido de desistir da transformação, até porque, tem uma hora que cansa, então quem é lagarta vai ser lagarta para sempre.

Quando completa a tal transformação, é só alegria. Todos te amam, todos querem ver você sair voando por aí. Mas ninguém sabe o quanto você teve que suportar até chegar ali. A borboleta sai do casulo com uma incrível fome, o ser humano saí de seu "casulo" também com uma incrível fome, mas a fome dele é diferente, a fome dele é de ter vontade de mostrar para todos que duvidaram dele o quão grande se tornou, mesmo com os empecilhos que encontrou no caminho. Nem todos chegam a passar perto dessa metamorfose, dessa transformação, alguns preferem permanecer como lagarta para sempre, é cômodo, é bom, outros até tentam, mas não aguentam e morrem ainda como pupa.

Acho incrível quando algo da natureza se torna uma metáfora para a vida humana. Olha o egoísmo do ser humano se mostrando presente, achando que o planeta gira em torno de sua mísera existência. Mas não há como negar de que as comparações fazem sentido, desde quando alguém iria parar para pensar no quanto em comum um homo sapiens sapiens possa ter com uma simples lagarta? A beleza da lagarta não está nela em si, mas sim no que ela pode se tornar, assim como há beleza em alguém prestes a crescer, você só tem que dar espaço e tempo.