Dona Rosa não conseguia escutar muita coisa, mal ouvia o barulho dos móveis sendo puxados de um lado para o outro por alguns inquietos, e que ainda tinham vigor sobrando, que moravam com ela.

Ah, mas se somente fosse esse o problema de sua vida! Dona Rosa sentia que de pouco em pouco deixava de ser dona de si mesma. A cada mês que passava, mais ela dependia do enfermeiros da casa de repouso. O pior? Ela deixava de ser dona de si mesma até mesmo em áreas que enfermeiro nenhum no mundo poderia ajudá-la.

As lembranças de seus filhos quando crianças quase não mais existiam. As surpresas românticas que seu falecido marido fazia antes e depois do casamento eram apagadas aos poucos. Dona Rosa precisava olhar as fotos de seus netos todos os dias para que conseguisse reconhecê-los nos dias de visitas.

Visitas essas que ficavam cada dia mais distantes uma da outra.

"Eles estão muito ocupados com a escola e as outras atividades" era o que a filha mais velha, Sandra, dizia pelo telefone para sua mãe, "Mas semana que vamos sim" ela tentava amenizar. Eles realmente apareciam, mas suas visitas eram curtas. Dona Rosa tentava ficar alegre, não iria desperdiçar seu pouco tempo com  família perguntando o motivo de não irem mais com tanta frequência.

Bom, algumas vezes ela tinha a determinação e até mesmo pensava no que iria falar, mas simplesmente se esquecia. O esquecimento cercava aquela velha senhora, e ela sentia que não era somente o que vinha acompanhando as dezenas de anos vividos.