Rainha Joana

27.12.15


No campo de batalha, a rainha Joana tentava se esgueirar, uma tentativa inútil de sobrevivência. Seus minutos já estavam contados. Ela não era capaz de prolongar nem um segundo a mais. Mas ela não desistiu. Assistiu a cena até o final.

Julião, o homem sombrio e com uma curvatura acentuada na coluna, ria em demasia com a conquista obtida. Seus dedos longos e finos coçavam seu queixo, cujo local dava espaço para uma longa e fina barba negra crescer. De longe Joana sentia a podridão do monstro que tirou a paz de seu reino. O monstro abaixou a mão que carregava seu troféu e olhou para trás, viu a Duquesa, irmã de Joana, se agarrar em um pedaço de galho para conseguir se levantar, mesmo que com uma dificuldade estampada. Ao contrário do que o leitor pode pensar a primeiro momento, a irmã da rainha não era a mente cruel por trás do ataque inesperado, mas isso também não significa que a Duquesa não levaria vantagem nessa derrota humilhante e perversa.

Joana era uma rainha dócil, sonhadora e esperançosa. O tipo de pessoa querida por todos os que a conhecem. Sua irmã não a invejava, elas na verdade andavam lado a lado. Duquesa era calculista e manipuladora, mas não era uma pessoa má.

"Você não pode!" exclamou Duquesa ao ver o sorriso impiedoso de Julião, seus olhos amedrontados evitavam olhar para o que ele tinha na mão.

O homem se aproximava e ela receava ter o mesmo fim de sua irmã.

Duquesa fechou os olhos e inclinou a cabeça, esperando mais cedo ou mais tarde receber um golpe mortal. Mas nada aconteceu.

Joana viu Julião voltar-se para o lado que ela estava. O homem parou no meio do caminho. Ela, ofegante, olhou em volta, só havia silêncio e a paisagem era resumida a soldados empilhados e bandeiras rasgadas. Julião abaixou os olhos e sorriu de canto, fazendo com que a grande ferida em Joana doesse ainda mais. Ela então olhou para a mão do homem. Entre os dedos e praticamente grudada na palma, se encaixava o coração da bondosa rainha. Julião apertava o órgão e soltava uma risada crescente. Gotas de sangue caíam aos pingos no chão e Joana era a única capaz de escutar o barulho de cada um deles. Ela tentava gritar, mas nenhum som saía. Julião então foi até Duquesa e ofereceu o coração da irmã. Ora, ela nunca havia desejado usurpar o trono de Joana e agora o título estava sendo literalmente colocado em sua mão.

Após entregar o órgão, o cruel homem sumiu tão rápido quanto apareceu. Embasbacada, Duquesa não sabia como agir. Com sua dificuldade, correu até a irmã, que estava desfalecida. Desde então a desconfiada e previdente Duquesa passou a reinar no vilarejo. Tentou salvar a irmã e a conservou em uma grande cama, envolta por um vidro detalhado por sua história. Ela não quer aquele posto para sempre, não havia sido feito para seu uso. Mas enquanto a rainha Joana não acordar, Duquesa se vê obrigada a se manter ali. Às vezes Joana tenta reagir e voltar à si, mas a carga é pesada demais para que consiga vencer.

Duquesa no começo tentou imitar a maneira da rainha Joana governar, mas não adiantou, ela não era Joana. Os tempos de felicidade e sonhos acabaram no vilarejo. Agora todos são realistas e sabem o que deve ser feito para o social funcionar.

Mas Duquesa não era má. E nem desejava ser.

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